Primeiro Encontro do Movimento de
Teatro “Acorda, Nordeste!”
Carta
de Fortaleza
O movimento agora intitulado “Acorda,
Nordeste!”, reunido em seu primeiro encontro presencial na “Casa da Esquina”,
sede dos grupos “Bagaceira” e “Teatro Máquina”, em Fortaleza, nos dias 2 e 3 de
dezembro de 2011, define como sendo seu objetivo primeiro a luta pelo
desenvolvimento artístico, cultural, humano e social da região nordeste, tendo para
isto o teatro como uma imprescindível ferramenta de transformação. Nesses termos,
por consenso entre os presentes, declara que:
I – Os núcleos teatrais estáveis, com
perspectiva de continuidade e que apóiam primordialmente os interesses
coletivos sobre os seus objetos artísticos, suas pesquisas e a produção de
conhecimentos, contribuem pela feitura de um teatro cujas especificidades o torna
insubstituível como registro, difusão e reflexão do imaginário de um povo. Por essas
características, esse tipo de fazer teatral é merecedor de total atenção por
parte do poder público e precisa ser por ele resguardado e fomentado. Diferente
disso, dentro dessa questão, o que observamos é uma total ausência de políticas
públicas condizentes a este segmento da arte e de canais permanentes de diálogo
entre governo, estado e sociedade civil;
II – A região nordeste, dentro de uma
perspectiva histórica que pauta todas as formas de organização política e
social a partir de fatores econômicos, recebe um tratamento distorcido e
desproporcional quando se observa a totalidade da nação. Essas distorções agravam-se
ainda mais quando analisamos numérica e qualitativamente as ações do poder
público federal dispensadas à produção artística e cultural.
Frente a essas constatações, em nosso
encontro, durante o período da tarde do segundo dia de trabalho, na presença do
Presidente da FUNARTE, o Sr. Antônio Grassi (que esteve presente à convite do
Movimento), o “Acorda, Nordeste!” apresentou uma lista de questionamentos e
reivindicações referentes às ações para o teatro, desenvolvidas por tal órgão.
A lista, descrita a seguir, executa uma dupla função: comprova as distorções
sobre as quais foi instigada a fundação do “Acorda, Nordeste!”, ao passo que cobra
ações e posturas por parte do poder público; a saber:
I – O movimento exige imediatas
providências do poder público federal que apontem para a discussão pública,
formatação e implementação de uma política de governo clara e condizente ao
teatro de grupo, voltada para a produção teatral que se insere nos termos já
citados;
II – Faz moção de repúdio ao
desproporcional montante de verba pública destinadas aos mecanismos de
incentivo cultural através da isenção fiscal (Lei Rouanet) em detrimento
daqueles que se pautam em fatores mais justos, como os editais públicos de
incentivo direto;
III – Requer a discussão sobre o
processo de transferência da sede da FUNARTE do Rio de Janeiro – RJ para
Brasília - DF. O movimento entende que essa mudança possa ser significativa
para a compreensão do real papel do órgão, que é público e federal, alicerçando
condições que apurem uma visão justa e imparcial sobre as cinco regiões do
país;
IV – Cobra explicações e a tomada de
providências sobre as seguintes questões relacionadas ao edital do Procultura,
lançado em 2010 pela FUNARTE:
a.
Sobre
a sua não continuidade;
b.
Sobre
o não lançamento da última etapa do edital, conforme anunciado e prometido, no que
diz respeito à categoria de manutenção de núcleos continuados de teatro;
V – Requisita explicações e a tomada
de providências sobre as seguintes questões relacionadas à última edição do
edital Myriam Muniz:
a.
A
distinção de valores a serem pleiteados pelos projetos levando em conta a sua
região de origem. Acredita-se que dessa forma está se estabelecendo um juízo de
valor diferenciado e preconceituoso para diferentes regiões do país. Outro
agravante dessa questão é o fato desse tópico já haver sido discutido com
e resolvido com a gestão passada, o que ressalta o sentimento de retrocesso.
b.
Desfavoráveis
condições de avaliação dos projetos, como, por exemplo, o escasso número
de avaliadores diante do curtíssimo tempo decorrido entre a data final para
entrega de material por parte dos pleiteantes e o anúncio final dos resultados com
a relação dos contemplados (aproximadamente 10 dias). Fatores estes que podem
levar a crer terem causado interferência no resultado final do processo.
c.
A
junção de ações distintas dentro de uma mesma categoria: Produção e Manutenção.
Nesse caso, para um julgamento justo, é necessário que cada ação conste em uma
categoria distinta, com verba distinta, pois precisam ser analisadas sobre
méritos diferenciados.
VI – Milita pela abertura de processo
seletivo público, através de edital, desde a primeira edição do projeto de
circulação de espetáculos teatrais, a ser criado em referência ao extinto
“Mambembão”, como também pleiteia a criação de circuitos intra e inter regiões,
sem enfoque restrito aos Espaços FUNARTE já existentes.
Entendemos que a tomada de providências
em relação aos itens mencionados se traduz em benefícios imediatos para a
produção artística teatral que se alinha com interesses verdadeiramente
públicos. Mais ainda, este pequeno conjunto de ações sintetiza pensamentos e
conceitos que apontam diretamente para o que deve ser função e interesse de um
governo justo, igualitário e que prima pelos interesses de sua sociedade.
Assim sendo, nós do movimento “Acorda,
Nordeste!”, solicitamos encaminhamentos de mudanças e ajustes de critérios e
procedimentos em relação aos itens acima citados, além de nos colocarmos à
disposição para a continuidade deste diálogo entre a sociedade civil
representada e a Fundação Nacional das Artes, instância do Ministério da
Cultura que, pelo nosso entendimento, deve pautar suas ações para uma política
nacional para as artes, contemplando, assim, a diversidade cultural do nosso
país de forma mais justa e equânime.
Assinam esta carta:
Grupo
Teatro de Caretas (CE)
Grupo
Bagaceira de Teatro (CE)
Grupo
de Teatro Clowns de Shakespeare (RN)
Grupo
Vilavox (BA)
Pequena
Companhia de Teatro (MA)
Teatro
Máquina (CE)
A
Outra Companhia de Teatro (BA)
Coletivo
Angu de Teatro (PE)
Coletivo
Atores a Deriva (RN)
Cia
MiraMundo (MA)
Grupo
Expressões Humanas (CE)
Grupo
Pavilhão da Magnólia (CE)
Grupo
Harém de Teatro (PI)
Grupo
Carmin (RN)
Teatro
popular de Ilhéus (BA)
Companhia
Prisma de Artes (CE)
Grupo
Magiluth (PE)
Coletivo
Ser Tão Teatro (PB)
Companhia
Teatral Acontece (CE)
Grupo
3 x 4 (CE)
Coletivo
Alfenim (PB)
Imagens
(CE)
Núcleo
Craituras Cênicas (BA)
Associação
Cultural Joana Gajuru (AL)
Epidemia
de Bonecos (CE)
Acartes
(CE)
Thiago
Arraes (CE)
Priscila
(CE)
Cia
da Cidade (CE)
Outro
Grupo de Teatro (CE)
Grupo
Teatral raça faz-se presente (CE)
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