terça-feira, 28 de julho de 2009

VIDA E ARTE - O POVO (27.07.09)


Políticas públicas
A hora da decisão


"O movimento todo teatro é político realiza hoje o 41º Fórum Cearense de Teatro. no foco das discussões, a cobrança aos gestores públicos de uma maior atenção "

Angélica Feitosa
Redação

A cena está preparada. De um lado do palco, os profissionais de teatro repassam o texto com as exigências feitas aos gestores culturais do Estado e do Município para a área. De tão cobrada e repetida, a fala já está na ponta da língua. Do outro, o diagnóstico de um conjunto de políticas públicas crescentes para o setor nos últimos anos. Ação, no entanto, ainda insuficiente para dar conta da demanda dos grupos locais, diante da necessidade de difusão e formação de plateia. A cortina do espetáculo será aberta hoje para quem quiser não só assistir, mas participar. A partir das 19 horas, o 41º Fórum Cearense de Teatro, organizado pelo movimento Todo Teatro é Político, realiza-se no Teatro Sesc Emiliano Queiroz para discutir vários pontos da atenção dos gestores culturais para a área do teatro. Em suma, a conversa se foca em dois pontos: na cobrança de realização das promessas feitas para ao setor e na reformulação das políticas públicas aplicadas hoje para as artes cênicas. Entres os principais questionamentos, estão os focos dados aos editais das artes. “Eles priorizam a realização de espetáculos ao invés da manutenção dos grupos. Assim, um grupo precisa criar um projeto a cada ano para montagens, ao invés de aprofundar na pesquisa. Os espetáculos acabam ficando pouco tempo em cartaz e circulando pouco”, aponta o diretor Tiago Arrais. Herê Aquino, do Grupo Expressões Humanas, acrescenta que, além de ser necessária uma elaboração de edital com a participação dos grupos de teatro, é preciso pensar uma maneira de difusão dos grupos pela cidade. “É preciso viabilizar maneiras de criar uma cadeia produtiva para o teatro”, pontua a diretora. Segundo os artistas, existe uma dificuldade de estabelecer um diálogo com os gestores de cultura. De acordo com eles, a Secretaria da Cultura do Estado (Secult) é mais acessível que a do Município. “O diálogo com o secretário da Cultura, embora exista a demora de respostas, acontece com mais frequência. Já com a secretária de Cultura de Fortaleza a questão é mais grave. Não existe uma política pública para o teatro, o Festival de Teatro de Fortaleza não se realizou nem esse ano nem ano passado e ainda existe um atraso de pagamento de algumas parcelas de editais anteriores”, cobra Tiago Arrais. As cobranças também versam sobre os valores destinados às montagens e, principalmente, às manutenções dos grupos. Os atores apontam como avanço o fato de a Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) ter uma categoria destinada ao custeio do grupo, mas questionam os valores disponibilizados. “Ganhamos a manutenção com R$ 24 mil, insuficientes para a necessidade do grupo”, calcula a atriz Samya de Lavor, do grupo Bagaceira que, em 2006, foi contemplado com o edital das artes da então Fundação de Cultura, Esporte e Turismo de Fortaleza, hoje Secultfor. “Nós queríamos abrir a casa, montar um café, fazer dele um local de apresentações e de encontros, mas não foi possível”, pontua a atriz. O secretário da Cultura do Ceará, Auto Filho, recebeu, na última sexta, um grupo com representantes do movimento. Eles esperavam a resposta sobre uma proposta de edital entregue ao secretário no início de junho, com as alterações que o setor teatral entende como necessárias aos grupos. “Já houve um avanço e devemos elaborar uma proposta de ocupação de espaços na cidade, deverá haver um financiamento para a publicação de livros. Existe uma negociação. O secretário afirmou que os editais devem ter um montante, no total, de mais de R$ 3 milhões, exceto o audiovisual”, conta, confiante, o diretor Tiago Arrais. O primeiro ato do espetáculo é antigo. O seu início não está na abertura das cortinas de hoje à noite, mas, sim, na organização dos grupos de teatro do Ceará, que vêm se reunindo de forma mais efetiva. São cerca de 20 grupos, a maioria de Fortaleza. Eles pedem uma maior participação nas decisões de como o dinheiro para o teatro deverá ser aplicado. Anteriormente, em 2004, a ideia era envolver outros estados do Nordeste. A falta de mobilização, entretanto, fez que a então Conexão Nordeste transformar-se em movimento Todo Teatro é Político, formado com grupos apenas do Ceará.

REPERCUSSÃO
O que diz a Secult > A Secretaria da Cultura do Ceará divulgou nota sobre a questão: “A Secult continua recebendo não só do teatro, mas de todos os segmentos, as contribuições para o aperfeiçoamento dos editais de incentivo às artes. O último, inclusive, foi elaborado com esta discussão pública. Isso prova que a Secult sempre esteve aberta para discutir com a classe artística e tem chamado e recebido todos para este dialogo por entender que a política pública se faz em permanente construção coletiva”, afirmou a nota. Ela informou ainda que, para 2009, a Secult iniciará o debate novamente tão logo seja aprovado o recurso solicitado para o Governador. O valor pleiteado é R$ 3,2 milhões.


O que diz a Secultfor > Por e-mail, a Secretária de Cultura de Fortaleza afirmou ter uma agenda diária de atendimento a um público representativo de todos os segmentos do campo cultural da cidade. Sobre o Festival de Teatro de Fortaleza, a Secultfor informa que foram investidos R$ 265 mil, em 2006, e R$ 285 mil em 2007. “Em 2008, por problemas orçamentários e restrições impostas pela legislação eleitoral, o festival não pôde ser realizado. Em contrapartida, a Secultfor realizou um curso de formação de atores e atrizes com o russo Valentin Teplyakov”, apontou. Em 2009, a secretaria alega a crise econômica mundial e a diminuição do repasse do Fundo Participação dos Municípios como razões para a não realização do encontro. Sobre o pagamento das parcelas dos editais, a secretaria diz que apenas três contemplados não receberam a primeira parcela.

SERVIÇO
41º FÓRUM CEARENSE DE TEATRO - organizado pelo movimento Todo Teatro é Político. Hoje, a partir das 19 horas, no Teatro Sesc Emiliano Queiroz (avenida Duque de Caxias, 1701 - Centro). Aberto ao público. Outras informações: 8835 2320/ 9942 8490.

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