quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Polêmica no Edital das Artes - Jornal O Povo (22.09.2009)


Políticas Públicas



Em 2008, a Secretaria de Cultura do Estado (Secult), através do Edital das Artes, investiu R$ 1,5 milhão no fomento da música, literatura, artes visuais e artes cênicas. Este ano, o aporte mais que dobrou: passou para R$ 3,2 milhões, que vão contemplar projetos nessas mesmas áreas. Além desse valor, mais R$ 3 milhões foram investidos somente em audiovisual, em edital já encerrado. O recurso é o maior já disponibilizado, mas vem despertando polêmica. Do total da verba, R$ 712 mil são destinados à literatura, R$ 400 mil, à música e R$ 1,54 milhão, às artes cênicas.

``A Secult foi feliz no aumento do orçamento, mas alguns pontos precisam ser comentados. Primeiro que eles lançaram um edital sem ter pago os contemplados do ano passado. Depois que alguns valores de itens específicos diminuíram e não atendem bem ao que é necessário. Por exemplo, R$ 10 mil para circulação no Estado é pouco. Sobre a diferença de valores, acho que é natural até certo ponto. Cinema é uma área que tem projetos muito mais caros e tem que ter, sim, essas diferenças, mas a disparidade é muito grande``, comenta Thaís Andrade, produtora cultural e representante da Rede Ceará de Música.

Mas a maior discussão está concentrada mesmo é nas artes cênicas. Do R$ 1,54 milhão, R$ 1,04 milhão estão direcionados ao teatro, enquanto a dança dispõe de R$ 300 mil, e o circo, de R$ 200 mil. Para a bailarina Cláudia Pires, o abismo entre os valores foi uma surpresa negativa: ``A maneira como o Governo lida com as linguagens de formas diferentes é uma demonstração de desrespeito. Há tempos que tentamos audiências com o secretário para discutir políticas de formação e fomento à produção na nossa área, sempre participamos das bancas para sugerir melhorias para os próximos editais, mas nunca somos atendidos``, diz.

O ator circense Cláudio Ivo também considera a disparidade de aporte uma forma de desrespeito à classe. ``É uma questão de igualdade, de as artes serem tratadas com o mesmo valor. Acaba ficando uma coisa meio discriminatória: existe o teatro, existe a dança, que é uma arte menor, e existe o circo, que é menor ainda``, opina. Cláudio lembra que, por uma luta da classe, que criou uma associação (Associação dos Proprietários, Escolas e Artistas de Circo do Ceará), o circo foi incluído como categoria de artes cênicas no Edital das Artes. ``Mas, mesmo assim, ainda precisa ser mais valorizado``, defende.

Com a maior verba do edital, o teatro só tem a comemorar. Herê Aquino, do movimento Todo Teatro é Político, afirma que o aumento do aporte este ano foi fruto de mobilização. ``O edital foi conquista nossa, todo elaborado pela classe. Ficamos superfelizes com a sensibilidade da Secult de ter atendido a maioria das reivindicações. Foram 400% de aumento, conquistado à base de diálogo com o secretário. Fomos juntos porque sozinho ninguém faz nada, e mostramos que os valores do edital estavam defasados há muitos anos``, conta.

E MAIS - Sobre o imbróglio, a Secult argumenta que, no ano passado, algumas categorias tiveram sobras nos orçamentos. As artes cênicas tiveram aporte em torno de R$ 200 mil por categoria. No circo, foram R$ 25 mil residuais e na dança, R$ 6.443. No teatro, não houve sobra.

- Procurado pela reportagem, o secretário Auto Filho não pode comentar diretamente a questão por compromissos de agenda.

Alinne Rodrigues

alinnerodrigues@opovo.com.br

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