quarta-feira, 4 de novembro de 2009

MANIFESTO - LEI DE FOMENTO AO TEATRO CEARENSE


Prezados amigos da cultura de Fortaleza,


O Movimento Todo Teatro Político, que se faz presente nesta importante Conferência, deseja falar-lhes em nome de causas que vêm sendo pleiteadas ao longo de todo o ano, e que na verdade representam anseios históricos da classe teatral cearense.


Dezenas de companhias e todas as entidades teatrais, não somente da capital, mas de todo Estado, estão mobilizadas neste Movimento. Unidas no propósito de, finalmente, encarar o teatro como uma atividade produtiva, um bem público indispensável à sociedade.


O sentimento geral da classe teatral cearense é o de que não é mais possível que o teatro permaneça marginalizado, numa espécie de “gueto cultural”, destinado a poucos privilegiados, enquanto a cidade agoniza na miséria, na falta de reflexão, na privação do sentimento estético, do desejo de mudança e transfiguração que é tão próprio à arte teatral.


Ciente do papel público de qualquer artista, a classe teatral de Fortaleza não se basta com sua participação em nosso exíguo “corredor cultural”, entre o Centro da cidade e o Dragão do Mar. É sabido, por mais que nos constranja a todos, que mais de 90% dos fortalezenses jamais freqüentou tais salas de teatro. Parece-nos urgente, por sabermos do poder transformador da arte teatral, torná-la acessível a esse gigantesco contingente.


Para tanto, é fundamental que nosso poder político municipal reconheça o teatro como uma necessidade social, e seja parceiro de seu principal agente: a classe teatral.


Defendemos uma expansão qualificada do teatro por Fortaleza. O que significa não somente o incremento de ações teatrais pontuais pelos bairros mais populosos e carentes da cidade, mas sim o fomento de um teatro de qualidade, estruturado, que cumpra esse sentido de “ocupar” culturalmente os mais distintos quadrantes de Fortaleza.


Isto somente é possível através de medidas planejadas, que não fiquem ao sabor das gestões de governo ou de programas ocasionais em cultura, cujo alcance é momentâneo e incapaz de alterar substantivamente o panorama cultural da nossa capital. Trata-se, portanto, de algo que deve ser assegurado de modo definitivo, previsto em Lei.


Entendemos, assim, ser especial este momento em que a Conferência delibera sobre a criação de um Sistema de Fomento à Cultura, ao qual, desde já, empenhamos nosso apoio.


Todavia, o Movimento Todo Teatro É Político ingressa nessa discussão ao defender a necessidade, dentro desse âmbito, de uma Lei Complementar de Fomento ao Teatro. Esta, na realidade, tem sido a grande bandeira defendida pelo Movimento teatral, através de audiências públicas, seminários, entrevistas à imprensa e fóruns da linguagem. Seu projeto, resultante também do diálogo com ações semelhantes em todo país, já se encontra bastante amadurecido.


Sua razão maior de ser é que a natureza da Lei de Fomento ao Teatro se sustenta sob uma série de características próprias, que não se limitam ao simples exercício da linguagem teatral, mas que a encara como um fenômeno global, de atuação direta na paisagem social.


Foi deste modo que cidades como São Paulo e Porto Alegre, pensando o teatro em suas especificidades, inclusive orçamentárias, aprovaram suas respectivas Leis de Fomento ao Teatro, detonando em seus meios uma efervescência cultural sem precedentes.


Um projeto assentado na premissa de que é preciso DESCENTRALIZAR a atividade teatral, expandido-a por toda Fortaleza, através da OCUPAÇÃO, pelas companhias de teatro, de espaços públicos/privados e de equipamentos culturais. Multiplicando, assim, os espaços culturais da cidade, geridos pelas companhias de teatro. Visando sempre o benefício público, que é o da formação de platéia e formação artística, a populações inteiras que até hoje não têm acesso ao teatro.


Isto só é possível com o apoio continuado, o fomento à MANUNTENÇÃO das companhias teatrais. As quais devem ser encaradas como eixo dessa visão do teatro como atividade produtiva. Um teatro comprometido com a PESQUISA artística (portanto não mercadológico, porém profissional), que disponha de condições reais de trabalho e de subsistência. E que possa, por meio dessas estratégias de fomento, expandir, por própria conta, suas atividades, tornando-se, afinal, GRUPOS DE TEATRO EMPREENDEDORES.


Acreditamos firmemente na capacidade de transformação da cidade pelo fomento à cultura e, neste caso, à atividade teatral especificamente (de vez que ela é específica). Modelos já bem sucedidos nesse sentido só confirmam tal perspectiva.


Aberto a promover esse importante diálogo com o poder público e demais setores organizados de nossa sociedade,


Movimento Todo Teatro É Político.

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